POr Luiz Sérgio Grossi (originalmente publicado no perfil do Facebook)
Há algum tempo venho percebendo uma certa cisão dentro da torcida do Galo. Em princípio, nada que me incomodasse pois, vivendo o Atlético há exatos 38 anos, sei bem o que a paixão pela instituição pode fazer, principalmente no calor das partidas ou, após marcantes fracassos. Mas o motivo de escrever sobre isso nasceu a partir de comentários postados via internet acerca de um debate semanal, entre atleticanos (e obviamente sobre o Galo) do qual participo com alguns amigos que o Galo me presenteou.
Esse debate já existia há alguns anos, eu inclusive não faço parte do início desse movimento.
Contudo, esse ano, nosso debate ganhou uma exposição maior por um veículo de comunicação famoso e, claro, críticas e elogios aparecem aos montes.
E, voltando ao início, percebo da parte dos Atleticanos, um sarcasmo exagerado e uma intenção nítida em diminuir aqueles (e aqui me refiro apenas aos Atleticanos) que criticam o clube, a direção, a comissão técnica ou os jogadores. Uma clara intenção de se promulgarem “mais Atleticanos que os outros “ou “superAtleticanos”. Os demais, que não se encaixam nesse perfil, são simplesmente rotulados de “cornetas” e desprezados como elementos desnecessários dentro da torcida.
Deixo claro aqui, como frequentador de estádio desde 1984, muito bem ensinado pelo meu falecido pai, (e ainda digo que, hoje, critico muito menos o Galo depois de sua passagem) que não se vaia o time durante o jogo. Repudio tal comportamento dentro do estádio. Mas acho válido, e defendo até o fim, o direito do atleticano se expressar contra o que ou quem ele achar necessário.
Uma coisa é discordar do outro durante o jogo, fazer uma brincadeira de “corneta” e por aí vai. Mas o que tenho visto vai além disso. Esses “superAtleticanos” são capazes de detonarem e fazerem chacota daqueles que criticam a instituição. E isso fica mais acentuado após os últimos dois anos.
Alcançamos uma grande conquista. Estamos tendo o privilégio de ver o grande time do galo de nossas vidas em campo até hoje. Nesse cenário, criticar o time ou qualquer membro do clube, vira pecado mortal.
Gostaria de lembrar aos “superAtleticanos” que esse comportamento totalmente permissivo em relação ao que acontece com o Galo nos levou ao fundo do poço em 2005! Foi fruto de sabermos que esse amor é indestrutível! Cair para a série B não diminuiu em nada a minha Atleticanidade. Pelo contrário. Mas reduziu estrondosamente a auto-estima de qualquer Atleticano que se preze. Ver o Galo desrespeitado, atolado em dívidas, era algo desesperador.
Mas, lembro como se fosse hoje, de falar a um amigo: “Cara, se nos recuperarmos, minimamente, como é esperado pela grandeza do clube e da torcida, Belo Horizonte terá 2 times , no futuro, comparáveis aos de Barcelona, sendo, o Galo, o Espanyol”!
E graças a Deus eu estava REDONDAMENTE ENGANADO!
Em 2006 começaram vários movimentos de torcedores ditos “cornetas”, no sentido de de trazer o Galo de volta ao seu devido lugar. O Coutinho, o Galo Kombi e o Zeca Espora que o digam!
Esses “cornetas” se organizaram dentro do estádio e fora dele. Cobraram da diretoria e do time o que é de direito do Clube Atlético Mineiro.
E como esse essa torcida e essa camisa não têm explicação, o Galo trilhou, em 8 anos (outros clubes não conseguiriam isso em décadas) um caminho que parecia impossível: somos campeões continentais!
E não chegamos lá sem “cornetar”! Os 6 x1 que o digam!
Olho para o time hoje e continuo enxergando o melhor time da América, a despeito das baixas do Bernard, do Cuca, do Júnior César e dos vários contundidos.
Mas estamos enfrentando, sim , uma transição.
Autuori não é, nem nunca foi, o técnico de escolha para 90% da Massa. Mas, reconheço, (e já o fiz desde o jogo do Zamora)que vejo um novo estilo de jogo sendo implantado. Vejo laterais marcando mais, vejo mais posse de bola, vejo menos ligação direta entre defesa e ataque (o famoso “chutão”para o pivô do Jô). Tenho fé de que passaremos bem pela fase de grupos (por sorte caímos em grupo bastante acessível, ao contrário do ano passado)e chegaremos ao mata-mata jogando em nosso melhor nível.
Para finalizar, gostaria de deixar alguns recados aos caríssimos amigos “superAtleticanos”que nos honraram ouvindo o último podcast:
.Em NENHUMA hipótese (e falo também pelos meus parceiros de resenha), torcemos ou torceremos contra o Atlético para ver queda de treinador. Isso fica bem claro pelas nossas falas.
.Nenhum de nós torce pelo insucesso do nosso atual treinador. Entre duvidar da capacidade dele (os trabalhos anteriores não foram bons) e desejar o insucesso existe uma distância abissal. E, como acontece sempre: vestiu o Manto Alvinegro, é parte da família (R10 não gozava de nenhuma simpatia da minha parte até 2012 e hoje compro qualquer pelo cara).
.Tardelli, como já disse exaustivamente aqui, é BOM jogador. Conseguirá ser mais ser mais que isso? Conseguirá aparecer nos jogos decisivos? (Léo Silva deve ter um décimo dos recursos técnicos do Diego Tardelli e será lembrado para sempre). Sou fã do seu futebol, Tardelli. Você pode oferecer mais ao Galo! Por hora: INSUFICIENTE (ainda que a imprensa paulista brade por você na seleção). Vamos falar menos e jogar mais bola, meu caro!
.Humildade nunca fez mal a ninguém, ainda mais ao Atleticano, bem familiarizado nesse assunto de arrogância (mais pelas rivais, é claro). As comparações esdrúxulas entre Galo e Barcelona, Galo e Bayern de Munique, Autuori e Guardiola são tão imbecis que prefiro pedir aos “superAtleticanos” que as escreveram calçarem as sandálias da humildade e atinarem que melhoramos estupidamente em relação a 2005. Mas queremos mais! E para conquistarmos mais é preciso COBRANÇA! Depois do jogo! Fora da arquibancada!
Abraço a todos!
GALO SEMPRE!
Luiz Sergio Grossi Ferreira
Atleticano
Corneta???
Comentarista do Terreirão Cast da globoesporte.com
www.terreirao.com.br