A TV virou a desculpa para o C13 rachar de vez
Vai rachar. Pelo menos é isso que aparentemente se mostra no cenário de discussão dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o triênio 2012-2014. Hoje, porém, esse racha parece mesmo ser para valer, diferentemente daqueles movimentos que desde 2004 acontecem dentro do C13.Mas, por trás da questão da TV, está mesmo a questão política da entidade que, teoricamente, representa o interesse dos clubes do futebol brasileiro. Como já falei aqui no blog no ano passado, quando as eleições para a presidência do C13 quase terminaram com o fim da Era Fábio Koff, o problema todo é que não há um projeto para a gestão do futebol por parte dos clubes. O C13 não é independente, não atua apenas pensando na melhoria da situação dos clubes, não funciona como uma liga de fato.
Nos EUA, as ligas são empresas que têm os clubes como sócios e que, por causa disso, precisam dar lucro. A divisão do bolo de dinheiro arrecadado é feita de forma a todos terem o melhor nível de igualdade financeira para, então, aquele que for mais competente na esfera esportiva se sobressair. A lógica da meritocracia americana dita o funcionamento do esporte, tanto que o draft, que escolhe os melhores jogadores jovens para os times profissionais, ocorre de maneira inversa. Quem tem pior desempenho tem direito a ficar com o melhor jogador em seu time.
No futebol, em todo o mundo, a constituição do esporte é baseada, meramente, na força política das instituições. Ganha mais quem manda mais é a lógica que permeia a maioria das decisões do futebol.
O que acontece agora no Clube dos 13 é a essência dessa maneira de existir do futebol. A TV virou a desculpa para uma queda de braço política. Os dirigentes dos clubes não estão pensando com a cabeça no negócio. Não se debate o que vai gerar maior receita para os clubes no longo prazo. No discurso, porém, usa-se isso como argumento para um clube pender para um lado ou para o outro, mas não é a cabeça no negócio que determina o caminho a ser tomado.
Não tem como a comissão do C13 que discute as propostas das TVs ficar à parte da disputa política. Por mais que se tente chegar a uma definição tecnicamente melhor, a assinatura que vale é a do presidente do clube. E, como o dirigente tem de seguir a lógica do "pode mais quem manda mais", o impasse está criado.
Parece que agora o C13 racha de vez. E fica cada vez mais claro que o grande prejudicado, nisso tudo, será o futebol. A queda de braço política muito provavelmente vai culminar numa decisão inicial de intransigência de alguns clubes em assinar o acordo de TV. E isso deverá fazer com que, a princípio, nenhuma emissora esteja credenciada legalmente para transmitir a competição.
Enquanto os dirigentes acham maravilhoso elevar para quase R$ 700 milhões o valor recebido por todos os direitos de transmissão do Brasileirão, a NFL, liga mais profissionalizada do mundo, entra em 2012 com cerca de metade das transmissões na TV de um Brasileirão mas com receita de US$ 4 bilhões. Sim, é isso mesmo. Quase dez vezes mais do que o futebol brasileiro arrecada, mas tendo vendido apenas os direitos de transmissão para a televisão, sem contar internet, celular, pay-per-view, que geram alguns outros milhões para os cofres da liga...
A política contamina o negócio. Enquanto o modelo de gestão do futebol não for repensado, discussões vazias continuarão a imperar. E o produto futebol, sem valorização, continuará a achar que o que vale mesmo é ter alguns milhões no bolso sem se preocupar com a qualidade daquilo que se oferece para o público.
Por Erich Beting às 18h08
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